O protagonismo do aluno na educação

Conheça os novos focos

Não é à toa que o protagonismo do aluno na educação deve se tornar uma realidade em todas as escolas. Os chamados nativos digitais, ou Geração Z, nasceram em um ambiente amplamente dominado pela tecnologia e com a internet estabelecendo tendências.

Com a pandemia, esse grupo, que nasceu entre a segunda metade dos anos 1990 e 2010, tornou-se ainda mais conectado. Os formatos híbrido e remoto trouxeram novas dinâmicas para a sala de aula e potencializaram ainda mais as metodologias ativas, tudo isso sob a ótica de assegurar o papel de protagonista aos estudantes na jornada de produção de conhecimento.

Vale a pena lembrar que, de acordo com a Pirâmide da Aprendizagem, criada pelo psiquiatra norte-americano William Glasser, que também se destaca em questões relacionadas a saúde mental, educação e comportamento, o aluno absorve até 80% do aprendizado quando participa de debates e tem a oportunidade de argumentar, contra-argumentar, explorar e até rever seus pensamentos e ideias. No modelo tradicional, por sua vez, a realidade é bem diferente.

Ocupando uma posição passiva no processo de aprendizado clássico, ou seja, quando apenas segue o que é passado pelo professor, sem fazer qualquer interferência no processo, ele atinge um aprendizado que fica entre 10% e 50%. Sem o estímulo à curiosidade e distante da sua realidade, ele não cria vínculos com o espaço escolar e fica desestimulado.

É importante ressaltar que a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) traz, ao longo de todas as fases da educação básica, diferentes citações referentes à necessidade de estímulo ao protagonismo. O documento enfatiza a importância de ações que garantam uma atuação ativa do estudante em sua própria aprendizagem.

Protagonismo do aluno é um desafio aos profissionais da educação

Na prática, é um desafio imenso aos profissionais da educação garantir que os alunos, de fato, sejam protagonistas de todo o processo de ensino e aprendizagem. Isso significa garantir uma participação real em todas as fases, que incluem o planejamento, a execução e a avaliação.

Realmente, o conceito de educação 5.0, que nasceu no Japão em 2016, foi ainda mais impulsionado diante da necessidade de adequação de toda a sociedade no planeta devido ao coronavírus. Por essas e outras razões, é preciso que as escolas e os professores se apropriem da tecnologia e garantam aos estudantes o papel de protagonistas na elaboração do conhecimento ao longo de toda a trajetória de aprendizagem.

É preciso superar paradigmas e provocar uma disrupção em sala de aula. Além de fazer uso constante de recursos tecnológicos e técnicas, como a gamificação e a realidade aumentada, é primordial a aposta em ações voltadas às habilidades socioemocionais, que já são prioridade no currículo do Novo Ensino Médio. Skills como comunicação não violenta, resiliência, ética, autoconhecimento e empatia realmente farão a diferença na preparação para o futuro.

O protagonismo do aluno também é sinônimo de engajamento e pertencimento. De acordo com a terceira edição da pesquisa Juventude e Conexões (2019), iniciativa da Fundação Telefônica Vivo em parceria com IBOPE Inteligência e Rede Conhecimento Social, a escola e a faculdade/universidade são espaços fundamentais na vida dos estudantes.

De acordo com o estudo, a escola e a faculdade/universidade são apontadas por 60% dos 1.440 entrevistados, com idades entre 15 e 29 anos, como as instituições mais importantes para aprender. Elas são também consideradas as mais estratégicas e essenciais para participar da sociedade por 47% deles. Outros 44% veem esses espaços como propícios para empreender e 56% acreditam que neles é possível decidir como será o futuro, ou seja, o que a pessoa fará, de fato, na vida adulta.

Em linhas gerais, essa pesquisa comprova que a transformação da sociedade começa – sem qualquer exagero – em sala de aula. É fundamental que os jovens se apropriem dos espaços de aprendizado e sejam agentes ativos nesse processo.

Afinal, o que é um aluno protagonista?

Um aluno protagonista é aquele que tem um espaço real para compartilhar dúvidas, interesses, necessidades e desejos no processo de ensino e aprendizado. Nesse modelo, o professor deixa de ser o detentor do saber para tornar-se um mediador e incentivador da investigação em busca do conhecimento.

O educador assume, dessa forma, a função de um facilitador no ambiente escolar. Essa disrupção impacta completamente no modelo tradicional adotado em sala de aula, ou seja, exige um repensar de atitudes, uma maior sensibilidade e o desenvolvimento de outras competências e habilidades, como as que se referem ao uso da tecnologia educacional.

O êxito do protagonismo do aluno na educação depende de uma grande união de agentes. Trata-se de um processo colaborativo que envolve também os pais e responsáveis, pois é preciso observar também a realidade além dos muros da escola. Esse cuidado, que vai, inclusive, ser primordial para a saúde mental e garantir o desenvolvimento pleno de crianças e adolescentes, deve estar no radar dos profissionais no ambiente escolar e no dia a dia das famílias.

Afinal, para que construam uma jornada como protagonistas na educação, os estudantes precisam de autonomia em todas as suas ações. Para tanto, é preciso prestar atenção a questões relacionadas ao bullying, depressão, estresse, baixa autoestima e até mesmo relacionadas ao ambiente familiar que, se for desestruturado, pode prejudicar o êxito dessa iniciativa. As dificuldades de aprendizagem, como o Transtorno de Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH) e a dislexia também podem ser agravantes nesse processo.

Ações que impedem o protagonismo do aluno na escola

  • Centralizar decisões no âmbito escolar, ou seja, que não abrem espaço para os alunos na etapa de definições.
  • Dificultar ou inibir a participação dos estudantes em sala de aula.
  • Criar barreiras e outras dificuldades no momento de esclarecer dúvidas.
  • Não dar espaço real para que os alunos busquem soluções. O professor tem que ser um mediador, sem a postura ultrapassada de dar a palavra final, de forma hierárquica e sem discussões democráticas.
  • Adotar uma postura autoritária e com pouco ou nenhum diálogo.
  • Evitar ao máximo situações vexatórias, que deixam o aluno desconfortável diante dos demais colegas.

Caminhos para garantir o protagonismo do aluno em sala de aula

Promover a resolução de problemas e adotar outras metodologias ativas são medidas eficientes para assegurar que o aluno exerça o papel de protagonista no desenvolvimento da aprendizagem. Esse comportamento também será essencial para que exista o engajamento e o sentimento de pertencimento.

Veja outras ações eficazes:

  • Planejamento do dia: bastante difundida na educação infantil, essa medida pode ajudar a incrementar as demais etapas da educação básica. Por meio dele, o aluno tem voz ativa para decidir a ordem das atividades propostas para o dia. Essa participação gera mais autonomia para a turma. É possível levar essa proposta também para o ambiente virtual.
  • Avaliação do dia: é o momento de avaliar os aspectos negativos e positivos, ou seja, o que funcionou ou não nas dinâmicas de atividades (presenciais ou remotas). Com esse feedback conjunto, é possível buscar soluções em grupo para aspectos que podem ser aperfeiçoados ou melhorados.
  • Assembleias: uma medida bastante democrática. Nela, de forma bem-organizada, os estudantes podem buscar resolver problemas que enfrentam diariamente, além de apontar alternativas e soluções para atingir esses objetivos.
  • Trabalho em grupo: desde que bem conduzida pelo professor, é uma medida bastante recomendada para potencializar a argumentação, a criatividade, a cooperação, a empatia, entre outras habilidades. Essa iniciativa pode começar em equipes menores e ser ampliada para discussões do grupo todo.
  • Projetos: funciona bem para garantir o protagonismo, mas o estudante deve se envolver desde o planejamento até as mais diversas etapas. Pode ser uma ação bimestral, que vai favorecer a pesquisa, a discussão e o desenvolvimento de habilidades, como a criatividade, no momento da apresentação.
  • Tecnologia: essa ferramenta tornou-se essencial, ainda mais nas atividades envolvendo os chamados nativos digitais. Fazer uma boa utilização de jogos virtuais, gamificação, vídeos, podcasts e outros recursos potencializam as possibilidades de aprendizado e construção de conhecimento.

Quais são os impactos de uma educação centrada no protagonismo do aluno?

São, sem dúvida alguma, inúmeros os benefícios do protagonismo do aluno para suas relações com escola, comunidade e família. Entre as inúmeras vantagens, destacam-se:

1. Criatividade

A autonomia no processo de aprendizagem e construção de conhecimento faz com que o estudante desenvolva as suas próprias ideias, ou seja, ele fica mais criativo. Essa habilidade fará toda a diferença na futura carreira e em outras etapas da sua vida.

2. Agir em equipe com consciência e respeito

O protagonismo do aluno na educação favorece a busca por soluções em grupo, além de abrir espaço para o pensamento coletivo, ou seja, com a compreensão das diferenças e muito respeito em qualquer debate. Essa é uma habilidade que abre portas no mercado de trabalho.

3. Pensamento crítico

Diante do boom de informações e com o advento das fake news, o pensamento crítico é um divisor de águas importante. O desenvolvimento dessa potencialidade garante uma melhor visão de mundo, além de uma boa capacidade de fazer ponderações e ser mais questionador.

4. Desperta o gosto pelo aprendizado

Com os estímulos certos, o aluno cria um carinho pela escola e tem interesse no aprendizado. A rotina escolar deixa de ser chata e cansativa, pois é capaz de provocar a busca por novas descobertas. Os conhecimentos tornam-se, dessa forma, muito mais significativos.

5. Garante mais autoestima

Com um ambiente propício ao protagonismo, o aluno se sente mais valorizado e acolhido. Com o acolhimento necessário, ou seja, percebendo que os seus pensamentos são importantes e valorizados, ele passa a desenvolver o autoconhecimento e a ter uma participação mais consciente na comunidade.

6. Tem mais facilidade para lidar com os problemas

O diálogo intenso, favorecido pelos debates e pela busca de soluções para as mais diferentes questões, é a base do protagonismo e faz com que o aluno aprenda a lidar com as mais diversas adversidades. Essa capacidade de encarar os problemas trará conquistas importantes em todas as etapas da sua vida.

7. Intensifica o respeito ao outro

As ações colaborativas, além do reconhecimento da importância do seu pensamento, das ideias dos colegas e dos demais agentes do espaço escolar, fazem com que o aluno respeite mais as pessoas à sua volta, inclusive em casa. Esses debates favorecem a diversidade, a compreensão das opiniões divergentes e o desenvolvimento da empatia.

O protagonismo do aluno na educação não é sinônimo de falta de limites, ou seja, de que ele pode fazer o que quiser. A base de todo o processo está no incentivo ao diálogo e à busca de soluções.

Ao ser protagonista de seu aprendizado e da jornada de construção do conhecimento, o estudante conquista os subsídios necessários para entender melhor a sociedade em que vive, respeitar o coletivo e a conviver em comunidade. Fora tudo isso, ele recebe também o estímulo certo para conhecer a si mesmo.

Além de aprender a lidar com as diferenças e os mais variados conflitos, o aluno protagonista torna-se um cidadão capaz de provocar as transformações que o planeta tanto precisa. Até mesmo as relações, sejam elas em casa, na escola ou em outros ambientes são aprimoradas. É uma medida sem contraindicações, com certeza. Aposte nessa ideia e reveja os seus conceitos!