Folclore na educação brasileira

Folclore na educação brasileira

Você sabia que a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) reconhece o folclore como Patrimônio Cultural Imaterial da humanidade? Essa questão merece a atenção de professores, educadores e demais profissionais da área, afinal, é de suma importância a preservação e a divulgação das inúmeras manifestações populares que influenciaram a construção da identidade das diferentes nações por todo o planeta. Por isso, esse assunto ecoa na educação brasileira e deve ser cada vez mais aprimorado e estimulado em sala de aula.

Para que o folclore ganhe cada vez mais espaço na educação brasileira, é preciso estimular a curiosidade e a criatividade das crianças e adolescentes para além das telas. De forma sensível, dinâmica e bastante interativa, é essencial que compreendam o passado, o presente e as perspectivas para o futuro da sociedade em que eles estão inseridos

Por meio do folclore, os alunos conseguem identificar traços culturais difundidos há gerações. Com essa percepção, os estudantes também são capazes de compreender a evolução do país, da população e até mesmo de determinadas dinâmicas mundiais, inclusive, as relacionadas a conflitos graves como o verificado entre a Rússia e a Ucrânia

Com esse panorama, eles identificam particularidades da sua própria origem. Essa rica troca de experiências será fundamental para o desenvolvimento dos alunos como cidadãos, que se tornam, dessa forma, agentes ativos do processo de mudança e aprimoramento das relações nas suas comunidades.

Por essas e outras razões, agosto é o mês oportuno para difundir ainda mais esse tema na sala de aula. O Dia do Folclore Brasileiro (22/08) pode ser o ponto de partida para variadas iniciativas que coloquem em evidência as características que nos tornam únicos, ou seja, que nos diferenciam, por exemplo, de europeus, norte-americanos e de outros povos da América do Sul.

Por termos uma rica miscigenação, o folclore brasileiro tem elementos importantes das culturas africana, indígena e europeia. Compreender e prestigiar nossas crenças, costumes, parlendas, músicas, lendas, mitos, danças e festas populares é primordial para valorizarmos a nossa própria história. Essas medidas afastam preconceitos e estereótipos, além de potencializarem o sentimento de pertencimento. Saber qual é a nossa identidade permite buscar voos maiores em busca da igualdade e do desenvolvimento

Afinal, o que é folclore?

Para compreender a riqueza dessa palavra, é preciso retornar a 1846. Foi nesse ano, mais precisamente no dia 22 de agosto, que o folclorista britânico William John Thoms utilizou pela primeira vez o termo folk-lore. Veja o significado dessa expressão:

  • Folk: significa “povo”
  • Lore: diz respeito ao “saber” ou “conhecimento”
  • “Folk-lore” = saber/conhecimento do povo

Quase dois séculos após a sua criação, ainda é um desafio conceituar o significado de folclore, pois a riqueza de possibilidades em torno do estudo da palavra é bastante ampla. De maneira geral, podemos afirmar que é sinônimo de cultura popular e de identidade social de um povo.

Ao falar de identidade e folclore, entram em cena as tradições. Na prática, engloba os costumes, a culinária, as histórias contadas por gerações, o artesanato, as brincadeiras, enfim, uma gama de temas e oportunidades que precisam fazer parte das rotinas de sala de aula em toda a educação básica.

Antes da criação do Dia do Folclore Brasileiro, instituído no país em 1965, por meio do Decreto nº 56.747, de 17 de agosto daquele ano, o assunto já mobilizava importantes discussões e estudos. Destacam-se, por exemplo, nomes como Renato Almeida (1895-1981), Mário de Andrade (1893-1945) e Luís da Câmara Cascudo (1898-1986) no fortalecimento dessas tão bem-vindas discussões.

Esses folcloristas, por meio de avaliações importantes relacionadas à etnografia, etnologia e antropologia cultural, tiveram papel decisivo na elaboração de conceitos que iam além das influências europeias. Esse movimento foi essencial para a realização do I Congresso Brasileiro de Folclore, no Rio de Janeiro, em 1951.

Nessa data, foi apresentado um importante documento: a Carta do Folclore. O material trazia sugestões relacionadas ao tratamento que deveria ser dado ao assunto, sobretudo no que diz respeito à pesquisa, à educação e à preservação da cultura popular.

À época, os folcloristas colocaram em evidência o termo “fato folclórico”. Confira o que dizia o documento sobre essa expressão:

"Constitui o fato folclórico a maneira de pensar, sentir e agir de um povo, preservada pela tradição popular e pela imitação, e que não seja diretamente influenciada pelos círculos eruditos e instituições que se dedicam, ou à renovação e conservação do patrimônio científico humano, ou à fixação de uma orientação religiosa e filosófica”

Três décadas após a criação da data comemorativa, em 1995, o VIII Congresso Brasileiro de Folclore, realizado em Salvador, reuniu diferentes especialistas que apontaram novas definições relacionadas ao assunto. Na ocasião, foi feita uma atualização sobre o conceito, que passou a nortear todos os trabalhos, inclusive nas escolas:

“O folclore é o conjunto de criações culturais de uma comunidade, baseado nas suas tradições expressas individual ou coletivamente, representativo de sua identidade social. Constituem-se fatores de identificação da manifestação folclórica: aceitação coletiva, tradicionalidade, dinamicidade, funcionalidade.”

É importante ressaltar que o folclore brasileiro também está presente na Constituição Federal, promulgada em 1988. De acordo com os artigos 215 e 216, é garantido a todos os brasileiros o direito de exercer manifestações culturais. Além disso, o texto reforça que a cultura popular brasileira deve ser incentivada e que a sua preservação deve ser defendida.

Características básicas do folclore

  • Anonimato: apesar de ser um tópico bastante questionado atualmente por especialistas, elementos da cultura popular apenas eram considerados como fato folclórico se, de fato, fossem anônimos
  • Aceitação coletiva: para que realmente façam parte do folclore de uma nação, os elementos da cultura popular precisam necessariamente ter sido popularizados coletivamente
  • Transmissão oral: passados para gerações há vários séculos, os saberes que formam o folclore foram, em sua essência, repassados oralmente.
  • Espontaneidade: outro aspecto importante é que os elementos folclóricos devem surgir de maneira espontânea e ainda definirão a coesão cultural de um povo.

Como o folclore aparece na educação?

Sem dúvida alguma, o folclore deve ser incorporado ao ambiente escolar desde a educação infantil. É por meio dele que as crianças entenderão a cultura popular em que estão inseridas, ou seja, essa compreensão será decisiva para a plena formação como cidadãos para uma atuação benéfica e repleta de contribuições à sociedade

A história de um povo só é mantida e ampliada quando costumes, lendas, provérbios e outros ensinamentos são repassados a cada nova geração. Entender o passado e analisar o presente é essencial para a construção da identidade de um país. É esse olhar sensível e apurado que permitirá também os avanços aguardados e necessários para o futuro.

Ideias de atividades para trazer o folclore para a sala de aula (Educação Infantil e Ensino Fundamental – Anos Iniciais e Finais

  • Estimule, de forma lúdica, o trabalho com o conceito de folclore. O ideal é que o estudante perceba como o tema realmente faz parte do seu dia a dia, compreendendo as diferentes manifestações culturais e respeitando-as, afinal, são traços marcantes da sua própria personalidade. O professor deve levar em conta a faixa etária e buscar ampliar o vocabulário dos estudantes.
  • Estimule a memória cultural popular. Isso se dá por meio de elementos fundamentais, como as músicas, brinquedos, jogos e parlendas. Essa medida garante a preservação da cultura de um povo.
  • Estimule o amadurecimento emocional por meio de jogos folclóricos. Esse desafio é importante para reforçar a sensação de pertencimento. Nesse quesito, podem ser abordadas temáticas referentes ao comportamento e regras, além de crenças e outras ideias.
  • A Geração Z está altamente conectada, mas é preciso mostrar um mundo de possibilidades além das telas. Isso se torna possível com o incentivo à pesquisa de brincadeiras antigas com o objetivo de colocá-las em ação. Esse momento pode, inclusive, favorecer o desenvolvimento da criança, já que trabalhará as suas habilidades manuais e o movimento do próprio corpo. Trata-se de uma iniciativa que propicia grandes descobertas.
  • Estimule a curiosidade e a criatividade por meio da contação de lendas. Busque ainda histórias locais e regionais que favoreçam, por exemplo, a troca e a interação com as famílias.
  • Músicas e danças folclóricas também são bem-vindas, pois estimulam a imaginação, a interação e permitem uma análise mais aprofundada sobre o tema.
  • Popularize os personagens típicos do folclore brasileiro, como o saci-pererê. Provérbios e ditados populares também devem ser colocados em discussão, pois carregam muito da identidade de um povo.
  • Apostar em peças de teatro ou em murais e painéis sobre o tema também são soluções criativas que podem estar no radar dos educadores.

O folclore brasileiro no Ensino Médio

No streaming, há uma sugestão de série bacana que pode potencializar as discussões relacionadas ao folclore para os estudantes do ensino médio. A produção brasileira “Cidade Invisível”, da Netflix, alcançou uma excelente repercussão também em outros países e a segunda temporada deve estrear em breve.

Protagonizada por Marco Pigossi, Alessandra Negrini e grande elenco, “Cidade Invisível” traz atenção figuras marcantes do nosso folclore, como o boto-cor-de-rosa, a Cuca, a Iara e o Curupira em uma trama repleta de muito mistério e suspense. Tudo isso com direito a uma pertinente reflexão sobre a preservação das nossas lendas, a necessidade de proteção ao meio ambiente e também de valorização do imaginário popular. Fica a dica!

  • Curiosidade:“Cidade Invisível” é uma criação de Carlos Saldanha, artista brasileiro que faz sucesso em Hollywood com produções de animação como “A Era do Gelo” e “Rio”

Como o folclore pode ajudar na educação?

Além de essencial para a construção da identidade dos cidadãos, o folclore, quando associado à educação, pode despertar o interesse e a curiosidade sobre a riqueza cultural do país. Tal iniciativa é preponderante para enriquecer o pensar e estimular a empatia.

Em sala de aula, ao conhecer mais profundamente o folclore, os estudantes passam a respeitar outras culturas e nações. O estudo desse assunto também é mais que necessário para assegurar a identidade cultural, tendo a confiança, a segurança e a consciência crítica de si e do seu país como importantes aspectos positivos. É um aprendizado que só traz benefícios.

Dicas de leitura sobre o folclore brasileiro

  • 1. “Armazém do Folclore”, de Ricardo Azevedo (Editora Ática)
  • Grande pesquisador da cultura brasileira, o autor oferece ao leitor a possibilidade de conhecer um pouco dos mais variados gêneros presentes na tradição popular. Com textos costurados a partir da oralidade, a obra, como sugere o título, coloca à disposição do leitor uma riqueza de itens, como adivinhas, receitas culinárias, quadras, ditados, trava-línguas e lendas. Vale muito a pena a leitura!

  • 2. “Nove Monstros do Brasil”, de Flávio de Souza (Companhia das Letrinhas)
  • Bastante divertido e instrutivo, o livro parece um grande almanaque e se destaca por trazer fichas explicativas curiosas sobre nove monstros folclóricos do país. O texto é saboroso e tem um quê de nostalgia, pois remete aos causos contados pelos avós. É uma aventura sem contraindicações.

  • 3. “Como Nasceram as Estrelas: Doze Lendas Brasileiras”, de Clarice Lispector (Rocco Jovens Leitores)
  • Com o toque especial da eterna Clarice Lispector, a obra traz à tona, sobretudo, lendas indígenas, mas há ainda espaço para “O Negrinho do Pastoreio”, “As Aventuras de Malazarte” e a tocante “Uma Lenda Verdadeira", que conduz o leitor à noite do nascimento de Cristo.

    A autora apresenta, de maneira muito especial, enredos marcantes com personagens inesquecíveis, como o pássaro Uirapuru, a sereia Iara, o Saci-Pererê e o Curupira. A obra tem traços poderosos da narrativa moderna de Clarice Lispector, que surpreende ao propor desfechos diferenciados a essas histórias e até trazendo elementos novos e nunca contados antes. É interessante!

  • 4. “Lendas Brasileiras para Jovens”, de Luís da Câmara Cascudo (Global Editora)
  • Importante nome da história do folclore brasileiro, Luís da Câmara Cascudo compartilha nessa obra narrativas que revelam a riqueza de lendas e mitos dos mais variados cantos do país. A obra tem de tudo um pouco: de “A Morte de Zumbi” a “O Negrinho do Pastoreio”. Vale também, em paralelo, um estudo do autor e das suas principais contribuições para o tema. O aprendizado, dessa forma, será ainda mais enriquecedor.

    O Dia do Folclore Brasileiro é muito mais que uma data comemorativa. Trata-se de um momento de reencontro e de grandes descobertas. Em sala de aula, é essencial promover o contato com histórias e personagens que acompanham gerações de brasileiros.

    Descobrir brincadeiras clássicas, como o pega-pega, bolinha de gude, esconde-esconde, pião e amarelinha, também traz inúmeras vantagens ao desenvolvimento dos estudantes. Por conta disso, o folclore deve ter papel de destaque no planejamento escolar e ser cada vez mais integrado à educação. Aposte nisso!

    A valorização das manifestações culturais e de outros elementos que determinam a nossa identidade faz parte da missão do SAE Digital. Por meio das melhores tecnologias educacionais, as escolas parceiras têm acesso a conteúdos e outros materiais que transformam o processo de aprendizagem de crianças e adolescentes em sala de aula Entre em contato com um dos nossos assessores

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